quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ilustres desconhecidos

Já ouviu falar do cavalo-marinho do tamanho de uma ervilha? Ou na bactéria que vive em spray de cabelo? Ou no grão de café que não contém cafeína? Não? A maioria dos cientistas tampouco. Eles acabam de ser descobertos e integram uma lista de 18.516 novas espécies, recém divulgada pelo International Institute for Species Research (IISR) da Arizona State University, que compila esse tipo de informação.A lista revela histórias incríveis, como a de um fungo identificado no bosque do campus do Imperial College, em Londres – um reputado centro de estudo da Biologia. É quase um milagre que uma espécie que vivia ali tenha passado despercebida por cinco gerações de biólogos que estudaram lá. O caso da bactéria que foi encontrada numa lata de spray para cabelo, no Japão, é outra prova de que não temos a menor ideia do potencial biológico que nos rodeia. Batizada como Microbacterium hatanonis, ela é capaz de viver em ambientes extremamente inóspitos, como o cosmético.Hoje, a Ciência já descreveu cerca de 1,7 milhão de espécies, mas acredita-se que o número total deve ser de entre 5 e 30 milhões. Muitas delas desparecerão da face da Terra antes mesmo de serem identificadas. Antes mesmo que possamos verificar se os seus genes poderiam ajudar a curar o câncer ou a malária.Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), uma rede que reúne mais de 11 mil especialistas no assunto e que faz um mapeamento anual das espécies ameaçadas de extinção, 10% de todas as espécies que conhecemos estão ameaçadas. E isso deve piorar com o aquecimento global, já que o novo clima não será favorável a muitas espécies e muitos dos seus habitats estarão comprometidos. Na última versão da sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, a UICN analisou 44.837 espécies, das quais 38% são consideradas ameaçadas.Mas nem tudo é tristeza. A UICN informa que algumas espécies que eram consideradas extintas na natureza – e só presentes em zoológicos ou centros de estudos - mudaram de categoria devido a competentes trabalhos de reprodução em cativeiro e reintrodução nos seus habitats naturais. É o caso do furão de pés pretos, dos Estados Unidos e do México, e de um cavalo selvagem da Mongólia. Todo o cuidado é pouco, para que não voltem a desaparecer.* Coluna mensal da jornalista especializada em meio ambiente Regina Scharf, que publica artigos especiais sobre o tema. A profissional tem passagem por importantes veículos de comunicação e organizações não-governamentais. É autora de vários livros da área e ganhou os prêmios Reuters-UICN (América Latina) e o Ethos.